domingo, novembro 11, 2012

À luz da justiça


Ser justo depende de pequenos atos. Todos os dias, julgamos, refletimos sobre o que é certo, pensamos em quem está com a razão. E escolhemos. É assim que pomos em prática nossos valores e caráter e mostramos qual é a fibra de que somos feitos. Com pequenas atitudes, quase despercebidas e que, muitas vezes, ninguém vê. Nas alternativas que se oferecem no dia a dia, quando decidimos ficar ao lado de quem está correto, devolver o troco errado ou elevar a voz contra as injustiças, exibimos nosso senso do que é justo.

As pessoas abaixo decidiram que justiça era construir um mundo melhor não só para elas, mas para quem estava ao seu lado e para aqueles que virão. Acharam que ser correto era respeitar o outro, diminuir seu sofrimento, dividir o conhecimento, ajudar quando possível. Iluminaram seus caminhos com o brilho da justiça e, com pequenas atitudes, estão fazendo do mundo um lugar mais justo.

Marina brigou pelo atendimento de pessoas em um hospital e defendeu quem precisava de ajuda

Era dezembro, véspera da formatura do que hoje é o 9º ano. Eu era responsável por algumas turmas e um professor me ordenou que não aprovasse um aluno no conselho de classes. Ameaçou terminar nossa amizade caso eu fizesse isso. Ele queria castigar o estudante, dando uma segunda prova no fim de janeiro. Lembro-me do aluno, aprovado nas outras oito disciplinas... Liderado por mim, o conselho o aprovou. Perdi o amigo e ganhei vivência para ser justa em outros conselhos pela frente.
Adriana Costa, 56 anos, São Paulo (SP)

Parti para o tudo ou nada contra uma injustiça com um colega. Eu era chefe de um funcionário acusado de um erro. Exigiam sua demissão. No entanto, percebi que a falta era uma situação comum e que quem exigia sua saída tinha inveja do seu trabalho, cargo e salário. Conversei com meus superiores, para impedir a demissão. Não surtiu efeito. Foi aí que pedi uma reunião com os diretores e apresentei meu próprio pedido de demissão. Disse que, se mandassem embora alguém tão injustamente, teriam de me dispensar também. Felizmente, o resultado foi positivo. Eu já saí dessa empresa e hoje aquele funcionário exerce o cargo que deixei vago.
Mario José da Silva, 44 anos, São Paulo (SP)

Sinto que fiz justiça há alguns anos quando briguei pelo atendimento de um grupo em um hospital. Saindo do médico, vi muitas pessoas machucadas, sangrando. Eram pessoas simples, levadas para o pronto-socorro por causa de uma batida de ônibus. Resolvi esperar para ver se seriam atendidas. Depois de quase uma hora, nada. A atendente me informou que deveriam assinar promissórias para o atendimento. Na hora, meu sangue subiu. Resolvi pedir a atenção de todos e expliquei que quem deveria arcar com os atendimentos era a empresa de transporte, e não eles. Vi as pessoas relaxando. Quando saí, estavam sendo atendidas.
Marina de Souza, 53 anos, Embu das Artes (SP)

Coloquei minha vida em risco por um desconhecido. Quando vi um morador de rua sendo agredido tentei intervir, com um amigo. Ele foi imobilizado e eu fui espancado até ficar inconsciente. Sofri inúmeras fraturas e passei por uma cirurgia reconstrutora na face. Além do trauma físico, tive de me mudar do lugar onde nasci e me criei, entre outros inconvenientes. A justiça não foi feita no momento em que me coloquei no lugar do morador de rua e, sim, quando denunciei os agressores para que esse não fosse mais um caso sem solução. Ninguém deve se calar perante a injustiça.
Vitor Cunha, 22 anos, Rio de Janeiro (RJ)

Ao ver um serviço público malfeito, Ivanildo fez um vídeo de denúncia e cobrou a prefeitura

Denunciei um motorista e participei de um processo para fazer justiça em um acidente. Passeando de bicicleta com uns amigos, vimos um carro se aproximando. Ficamos ao lado, esperando o veículo passar, mas ele acelerou e atropelou um dos meus companheiros, que quebrou o joelho e a bicicleta. Tentei correr e chamar o motorista, mas ele não parou. Memorizei a placa e o modelo. Denunciei à polícia o acidente, e esse foi o início de uma investigação de meses. Mas o culpado foi preso e pagou uma multa que permitiu a meu amigo curar o joelho e reparar a bicicleta.
Francesco di Tillo, 28 anos, São Paulo (SP)

Brigo pelo certo com uma campanha para conscientizar quem pensa que não há nada de errado em beber e dirigir. Em julho de 2011, perdemos nosso amigo Vitão, atropelado em uma calçada por um carro em alta velocidade, conduzido por uma motorista suspeita de embriaguez. No dia do enterro, eu e meus amigos começamos o Movimento Viva Vitão. Vamos às ruas, bares, festivais falando com as pessoas sobre o perigo de beber e dirigir. Buscamos mudar a lei, mas, enquanto isso não acontece, tentamos mudar a cultura dos velozes e furiosos, que hoje mata nas ruas do Brasil, por ano, mais que a Guerra do Golfo.
Pedro Serrano, 25 anos, São Paulo (SP)

Há 11 anos, luto para que um crime não fique impune. Em 2001, meu filho Lucas foi vítima de pedófilos e, aos 14 anos, acabou assassinado. Um dos acusados – um pastor – foi preso, mas outros dois continuam livres, graças a brechas da lei. Eu e meu marido criamos um site, escrevemos um livro e fundamos o Mães da Praça Piedade, que auxilia pais de crianças vítimas de pedofilia. Enquanto tiver vida, continuarei lutando, pois a cada dia que falo sobre o caso do meu filho, protejo outras crianças.
Marion Terra, 54 anos, Salvador (BA)

Fiz o certo quando resolvi tocar piano no centro de São Paulo, de graça. Sou pianista, e meu sonho é levar a música clássica a quem não tem acesso a ela. Por pensar assim, enfrento preconceito dos colegas que acreditam que a música deve se restringir ao universo dos grandes entendedores. Eu me neguei a pensar dessa forma e decidi fazer as coisas do meu jeito: toquei de jeans e tênis – e não de roupa social e salto – em uma das praças da cidade. Vi pessoas se encantar com a música. Não me importo com olhares tortos. Se der atenção a isso, paro de lutar pelo que acredito.
Juliana D’Agostini, 25 anos, São Paulo (SP)

Acho que fiz algo justo naquele dia 10 de maio de 2011, quando pedi a palavra diante dos políticos do Rio Grande do Norte, numa audiência pública sobre o caos na educação do estado. Denunciei o salário humilhante dos professores e as condições precárias das escolas. Não é todo dia que uma trabalhadora ousa levantar a voz contra os responsáveis diretos pelos problemas da sociedade. Os políticos não gostam de escutar o povo. A verdade é que eles não sobreviveriam se ganhassem o meu salário de professor, que não paga nem a roupa que os deputados usam.
Amanda de Freitas, 30 anos, Natal (RN)

Não me calei ao ver um serviço público feito errado. Em nossa associação, a União dos Moradores da Favela Jardim Colombo, disponibilizamos pela internet reportagens que divulgam ações ou investigam obras realizadas pela prefeitura no bairro. No fim do ano passado, publicamos o resultado de uma obra que não havia sido bem concluída. O vídeo foi visto pela superintendente municipal de habitação popular, que cobrou providências pela obra. Naquele momento, percebemos que nosso trabalho estava gerando resultados.
Ivanildo de Oliveira, 40 anos, São Paulo (SP)

Para tentar diminuir a corrupção, redigi, em 2007, um projeto de lei para impedir a eleição de políticos condenados pela Justiça. Em menos de dois anos, passamos por cerca de 350 cidades do Brasil e coletamos mais de 1 milhão e meio de assinaturas de quem apoiava a ideia. Em 2009, o projeto foi levado a Brasília e, no ano seguinte, aprovado. A Lei da Ficha Limpa será aplicada pela primeira vez este ano, e é apenas o início de um processo de transformação, que só dará certo se as pessoas continuarem unidas para exigir justiça.
Márlon Reis, 42 anos, Imperatriz (MA)

Em outubro do ano passado, lutei por  meus direitos de cidadão. Recebi uma multa por dirigir e falar ao celular, mas,  naquele dia, meu carro não tinha saído da garagem! Pela legislação, basta anotar a placa do veículo e um endereço para que a “suposta” infração exista. Recorri argumentando, questionando e, mesmo sem poder provar (foi a minha palavra contra a de uma autoridade de trânsito), demonstrei a indignação contra uma lei que nos deixa de mãos atadas. Resultado: em fevereiro, meu recurso foi deferido, não perdi pontos na carteira e não paguei a multa.
André Machado, 41 anos, Mogi Guaçu (SP)

Sou justo quando peço para incluir na conta algo que consumi e não foi cobrado. Certa vez, saí para jantar no fim de semana e, além dos pratos, consumimos também uma bebida que não foi lançada na conta. Antes do acerto, chamei o garçom, que me agradeceu pelo gesto e retornou com o valor correto. Não dá para saber quantas pessoas deixaram de pagar parte da conta em uma noite e muito menos quem será penalizado na hora de fechar o caixa.
Fernando Souza, 30 anos, São Paulo (SP)

Lutei pelo que era certo quando, em vez de ficar quieta, briguei com meu banco, que me cobrou taxas de cartões que eu não havia ativado – e me irritei ainda mais quando fui tirar satisfações e ninguém soube resolver meu problema. Parti para as redes sociais: reclamei, xinguei e, finalmente, fui atendida e meu problema foi resolvido. Sei que minha atitude ajuda a alertar outras pessoas e as estimula a reclamar também.
Bruna Buzzo, 23 anos, São Paulo (SP)

Contribuo para tornar o mundo mais justo fazendo queixas de coisas erradas. Há dois anos denuncio para a prefeitura paulistana e para o site urbanitas.com.br calçada quebrada, maus-tratos a animais, propaganda ilegal, veículos poluidores, entre outros. Ando pela cidade observando se há algo errado e, se descubro, denuncio. As pessoas deveriam fazer sua parte, em relação a tudo, meio ambiente, cidadania e justiça social. Deixar tudo na mão do governo e da polícia não vai resolver.
Vinícius De Luca, 22 anos, São Paulo (SP).


Fonte: Revista Sorria




JF

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