Eu e minha mãe
compartilhávamos de uma mesma ideia: o câncer não tem cura. Você pode até dizer
que está curado, mas ele um dia vai voltar. Acho que foi para provar isso, pelo
menos para mim, que em junho de 2003 recebi a notícia que estava com câncer. Como não
poderia ser diferente, o chão da nossa família se abriu.
Depois dessa notícia,
coloquei na minha cabeça o seguinte: Se o câncer não tem cura igual eu
pensava, vou ter que provar pra mim mesmo que ele tem cura e terei que provar
para minha mãe também. Confesso que chorei antes de ir para a mesa de cirurgia
para a biópsia para ver se realmente estava com câncer. Minha mãe chegou perto
de mim e escondi que chorava. Prometi que só voltaria a chorar quando estivesse
curado, mas choraria de alegria.
Para um melhor
atendimento, tive que mudar de cidade, saímos de Guaxupé, no interior de Minas
Gerais e fomos para Campinas, em São Paulo. A mudança de cidade não foi fácil.
Largar a escola no meio do ano. Deixar para trás meu pai e minha irmã. Mudar de
uma cidade de quase 50 mil habitantes para uma de 1 milhão era uma mudança e
tanto. Não posso reclamar de nenhum familiar meu nenhum amigo, todos, repito
TODOS eles estavam comigo.
Eu nunca vi Deus, mas já
vi seus anjos. Anjos esses que ele colocou na minha vida. Vou citar o nome de
alguns aqui, mas já peço desculpas se esqueci de algum, mas esses não podem
ficar de fora. Dr. Edvaldo Silva, de Guaxupé, que foi meu pediatra desde
pequeno e que depois virou meu padrinho de crisma. Dr. Marcelo Rizzati e toda
sua equipe, Dra. Gisele, Dr. Márcio, todos eles do Centro Boldrini.
O tratamento, lógico,
não foi fácil. Depois da primeira quimioterapia,
os primeiros cabelos começam a cair e, na minha cama antes de dormir, descumpri
minha promessa e uma lágrima correu pelo meu rosto. Logo limpei e, no outro
dia, raspei o cabelo e reforcei a promessa: só chorar quando estiver curado e
de alegria.
O destino, se é que
existe destino, nos prega cada peça. Numa sexta-feira, antes de ir para
Campinas para mais uma sessão de quimioterapia, passei na casa de minha avó,
pois ela não passara bem no dia anterior. Nem entrei para vê-la, minha mãe que
foi ver como estava. Fomos para Campinas para uma longa sessão de quimioterapia
que durariam seis horas. Na consulta antes da sessão, o médico disse que aquele
dia eu estava liberado da quimioterapia, que uma mudança no cronograma me
liberaria da quimioterapia aquela sexta e era para eu voltar na próxima semana.
Achamos estranho, mas não reclamamos e retornamos para Guaxupé. Ao chegar,
descobrimos que minha avó estava internada. Chegamos justamente na hora de
visitas, minha mãe foi visitá-la e minha avó disse a ela: “Ele está curado”.
Depois disso, à noite, ela vai para a UTI, não resiste e na noite de 23 de
setembro de 2003, minha avó desencarna. Minha mãe costumava dizer que ela tinha
dois medos: um filho ter câncer e a mãe dela morrer. As duas coisas aconteceram
ao mesmo tempo. Eu tive que ser forte na frente de minha mãe. Se eu desabasse,
eu levaria junto comigo ela, meu pai e minha irmã. Na cama à noite eu desabei
sozinho. Chorei novamente, mas dessa vez não era por causa da doença. Isso
aconteceu na sexta, no sábado foi o sepultamento, no domingo, acordo meio
indisposto e faço em Guaxupé mesmo um exame de resistência. Quando estávamos no
almoço, Dr. Edvaldo chega dizendo que tenho que ir para Campinas porque foi
detectado um problema no meu hemograma. Fizemos mala para um mês. Não sabíamos
quanto tempo ficaríamos em Campinas. A revolta tomou conta de minha mãe. Ela
tinha acabado de enterrar a mãe e uma infecção no filho e tudo isso um dia após
o outro. Meu pai fala para minha mãe ir conversar com a mãe que não tinha ido
embora: Nossa Senhora Aparecida. Minha mãe contava que ali ela teve uma
conversa com a mãe de Cristo. Ela não rezou. Ela pediu, suplicou, interrogou,
ordenou, fez de tudo. Quando chegamos a Campinas, faço outro exame e a médica
vem com o resultado: algum engano deve ter ocorrido, não tinha nenhum problema,
nenhuma infecção, resistência alta, tudo normal. A única explicação que tenho
para esse evento é que eu fui obra de um milagre. Não tenho nenhuma outra
explicação.
Perder minha avó não foi
fácil para ninguém, mas tinha que levantar a cabeça. Eu tinha que ser mais
forte que toda minha família. Eu não poderia desabar. Com o fim das quimioterapias, o
cabelo foi voltando a crescer. A radioterapia foi
feita e em janeiro de 2004, eu saía de tratamento oficialmente. Foram sete
meses de sessões de quimioterapia e radioterapia.
Cinco anos após o
término do tratamento. Meu médico disse que eu estava curado. Pronto, eu
consegui provar para mim mesmo que o câncer tem sim cura. Na sala do médico
estávamos somente eu e meu pai. Minha mãe não aguentou chegar nesse dia, em
2007 um AVC leva minha mãe para junto de minha avó. Mas eu tenho certeza que de
onde ela estivesse ela estava vendo que eu também tinha provado para ela que o
câncer tem cura. Eu costumo dizer que podem ter pai, mãe, irmã, avós, tios até
iguais, mas melhores que os meus ainda está para nascer.
Hoje em dia eu falo com
a maior tranqüilidade que tive câncer. Encho a boca para falar EU TIVE CÂNCER. Muitos
ficam impressionados com a naturalidade que falo. Muitas pessoas não falam nem
a palavra eu falo CÂNCER,
e completo:
O CÂNCER TEM CURA, EU
SOU A PROVA DISSO.
Fonte: vidasemcancer.com.br
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