quinta-feira, dezembro 13, 2012

Natal do Palhaço

Era noite de Natal! Tudo lá fora eram alegrias; fogos iluminando a noite; sinos badalavam anunciando o nascimento de Cristo Salvador. Sussurros de vozes, em confraternização. Chegados do corredores, lembravam a presença do espírito natalino. Ainda atordoado depois do desastre, o palhaço Piolim tentava lembra-se do que acontecera; e pouco a pouco, lentamente, sua memória foi reagindo; então lembrou a última apresentação do circo numa cidade vizinha, a volta de carro, depois do espetáculo, a derrapagem, o capotamento, o grito da esposa, dentro da madrugada, o choro do filho, depois o silêncio.
As paredes brancas, um vulto de uniforme, que entrava e saia do quarto, o cheiro forte de remédios, não deixavam dúvidas de que ele estava num hospital. Até que ponto estava ferido, não tinha a menor ideia, já que estava sob o efeito de fortes soníferos. Mas, naquele momento, não pensava nele próprio, mas na família, no que tinha acontecido com ela. Grossas lágrimas lhe desceram do rosto, manchando a maquiagem de palhaço, que ainda tinha nas faces; chorando, o velho palhaço se lembrou de que era noite de Natal. E pensou consigo mesmo que ele, que era a alegria das crianças da cidade, que tudo fazia para vê-las felizes, não merecia, justamente numa noite de Natal, ver a sua felicidade destruída. E pensou no Cristo Menino, tão menino quanto as crianças de sua cidadezinha, tão menino quanto o seu filho.
De repente, como num milagre, sentiu que lhe voltavam as forças; já sentia os braços, a cabeça já não doía, as pernas começavam a ter movimentos. Pensou em levantar-se e rezar, mas se lembrou de que nunca aprendera a rezar. Mas tinha que rezar, para que o milagre que estava acontecendo com ele, acontecesse também com a sua mulher e com seu filho. Tomando de todas forças, sentou-se na cama; pegou seu estojo de maquiagem e se preparou, como se fora para entrar no picadeiro. Estava só no quarto. Olhando as paredes viu um retrato do Menino Deus. E foi para ele, rindo e chorando que o velho palhaço fez o espetáculo. Cambalhotas, trejeitos, piruetas, tudo era feito por Piolim para agradar o menino Deus. Risos e lágrimas se misturavam durante a apresentação, pois ele estava rezando da única maneira que sabia.
E então a porta do quarto se abriu; um médico e uma enfermeira, sorridentes, esperavam um minuto até que o espetáculo acabasse. Depois disso, lhe deram a notícia: "sua mulher e seu filho estão salvos; amanhã já podem ir todos para casa, comemorar o dia de Natal". E o velho palhaço, ainda em lágrimas caminhou até o retrato do menino Deus e o beijou. Afinal, ele gostara do espetáculo.

Fonte: Bethynha
LD


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