Trabalhar
como clown de hospital é um assunto muito sério. Não se trata somente de fazer
rir, senão de tentar compreender o estado psicológico desses pacientes nesse
momento e, então, intervir para desviar sua atenção para um lugar onde possam
recuperar sua alma infantil.
Não é
simplesmente fazer palhaçadas por fazê-las, é ser cúmplice da dor das crianças
e de seus pais.
Devemos levar
o trabalho muito a sério porque não é toda equipe médica que entende – ou
aceita – o que se faz; para muitos, esse trabalho pode parecer uma bobeira e
qualquer erro que cometamos poderá ser maximizado.
Este trabalho
não substitui os remédios, é uma ferramenta com a qual o médico pode contar
para fazer seu trabalho, que é restabelecer a saúde do paciente; por isso mesmo
é importante conhecer os aspectos gerais das doenças que encontraremos ao longo
do nosso trabalho.
Não se pode,
por exemplo, falar que estamos mortos de sede e tomaríamos um balde de água
tranqüilamente quando estivermos dentro da área de “nefrologia”, na qual as
crianças têm restrições para beber água.
Temos que
começar a aprender algo mais sobre esse assunto para que a sociedade nos aceite
como profissionais necessários, úteis, e não como palhacinhos que visitam as
crianças durante as festas de Natal.
Não se trata
de caridade, senão de justiça, não é um ato caridoso, é uma atividade
solidária.
* O trabalho
deve ser feito sempre em duplas.
* Devemos
evitar ser barulhentos, temos que ajudar os pacientes a relaxarem, pois já existe
suficiente estresse no ambiente.
* Sempre
devemos pedir permissão para entrar numa sala ou aproximar-se de uma cama, a
permissão deve ser dada pela própria criança, pelos “donos da casa”. Devemos
levar em consideração que quando uma criança entra num hospital perde o
controle sobre si mesma; ela é deixada ali sem seus pais, é observada e tocada
por estranhos, recebe injeções e medicamentos, tudo à revelia de sua vontade;
deixemos que ela pelo menos decida se quer um palhaço perto dela ou não.
Geralmente as que se negam a receber um palhaço, no início, logo irão, elas
mesmas, convidá-lo. Quando receber uma resposta negativa o melhor a fazer é
dizer: “tudo bem, quando você quiser que eu me aproxime você me avisa, tudo
bem? Estou por aqui...” e tudo isso com um bom clima.
* É bom
envolver os pais e enfermeiros no trabalho – quando estes estejam presentes,
claro, porque isso suaviza a tensão e alegra às crianças, tornando íntimo o que
parece distante.
* Fique
atento a tudo para poder variar sua rotina quando for necessário.
* Não permita
que pais ou equipe médica usem sua presença para chantagear as crianças (tipo:
“se você não comer o palhacinho não vai brincar com você”).
* Uma criança
que vai passar muito tempo hospitalizada necessita uma abordagem diferente
daquela que está ali a pouco tempo. O trabalho com pacientes crônicos passa
muito por saber seu nome, seus gostos, para poder conectar-se com ele de uma
maneira mais íntima, mais próxima.
* Sempre
saber o nome da criança e de seu diagnóstico (não se pode fazer rir a uma
criança operada do estômago porque seus pontos se abrem!).
* Também é
importante não envolver-se emocionalmente com a situação que estão vivendo,
porque senão você “leva o paciente para casa” e sofre. Isso não quer dizer que
não comparta a dor com eles mas, sim, que você isola cada caso de sua vida
privada.
* As roupas
do clown devem estar em bom estado, limpos e cuidados. Qualquer rasgo ou
descosido é ampliado pela proximidade e faz com que o clown perca sua
dignidade.
* É
recomendável lavar as mãos após cada visita.
* Dar mais
atenção às crianças mais retraídas, elas são as que mais sofrem e mais
necessitam nossa ajuda.
* Desfaça
qualquer tipo de “jogo” que suponha perigo para a criança, por menor que seja.
Também não é bom aproximar-se muito dos que estão conectados ao soro (e
aparelhos similares), isso os deixa mais tensos.
* Quando a
criança não pode se mexer ou está conectado a algum aparelho, devemos fazer
“jogos” realmente pequenos, como carrinhos sobre sua roupa, música suave,
bonecos de dedo.
* Controle os
“jogos” que fizer em cada sala, para não repeti-los com as mesmas crianças.
* Estes jogos
podem ser recuperados de tempos em tempos, quando os pacientes sejam outros.
* É muito
importante ter uma boa relação com a equipe médica de cada área. Saber se
precisam que se dê alguma mensagem a alguma criança em especial (ao que não
come, ao que recusa ou resiste ao tratamento...)
* Evite as
brincadeiras pesadas mesmo nas áreas de transição entre uma ala e outra.
Devemos lembrar que estamos num hospital e todos ali estão preocupados com
algum familiar doente; devemos sempre nos aproximar com suavidade.
* No caso de
atender a crianças com doenças terminais deve-se ter muito cuidado com o que se
diz sobre o “futuro”. Evitem se desgastar dizendo coisas como “não se preocupe,
logo você vai estar juntinho da sua família e de seus amigos, vai melhorar e
ficar curado” e coisas do tipo. No geral, essas crianças e suas famílias são
preparadas para enfrentar o que está por vir e dizer essas coisas é contra-producente
para a aceitação da doença.
* Evite levar
presentes para as crianças, devemos ter bem claro que vamos brincar com eles, e
não levar presentinhos. No caso de perceber que alguma criança necessita um
presente, o ideal é preparar um brinquedo com ele (boneco de meia, de papel,
etc.).
* Se prometer
levar alguma coisa a uma criança, cumpra. Ela estará esperando.
Obs: Esse texto é voltado para o trabalho com crianças, mas as dicas aqui apresentadas servem para o trabalho com todas as faixas etárias (:
LN
desejo ser o mais conveniente possível e apenas trazer conforto e alegria!
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