terça-feira, outubro 22, 2013

Jovens ingressam cada vez mais em trabalhos voluntários

O publicitário Rafael Montaldi como o palhaço Trilili


Para aprenderem atividade profissional ou simplesmente pela satisfação de ajudar o próximo

O paciente estava em coma, entubado e incomunicável. Mesmo assim o palhaço Trilili não desistiu de sua missão de fazer graça e transbordar carinho. Todos os sábados à tarde ele ia divertir os corredores do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, em Campinas, e fazer graça ao lado da cama daquele homem que estava desenganado pela própria mulher. “Ah, nem adianta brincar que ele está em coma...”, lamentava ela.

Além de desfilar piadas e criar bichinhos feitos com bexigas, o artista fazia questão de contar todas as notícias da semana ao espectador imóvel. Um dia, o que parecia impossível aconteceu. Trilili voltou ao local e foi surpreendido com o paciente acordado.

Ao estender a mão para se apresentar, foi a vez do palhaço ganhar de volta a sua dose de afeto: “Não precisa se apresentar não, eu já te conheço bem. Você vinha todo sábado aqui falar comigo. Obrigado por não deixar de vir, você me ajudou muito”, agradeceu o homem. Nesse momento, o Trilili deu lugar ao publicitário Rafael Montaldi, o cidadão voluntário por trás da maquiagem e do nariz engraçado. Sua missão, ali, estava cumprida.

“Sempre relutei em frequentar hospitais, até para uma simples visita. Mas eu procurava por um trabalho voluntário e, a convite de um grande amigo, fui conhecer os Hospitalhaços. Me encantei tanto que, quando percebi, já estava desenhando meu figurino, preparando maquiagem, criando truques, brincadeiras, colocando um nariz vermelho na cara e dei vida ao Trilili”, lembra Montaldi, citando a organização não governamental (ONG) que é o maior grupo de humanização hospitalar do Brasil.

“Cada tarde de sábado era uma aventura diferente e a única certeza era a de aprender algo novo, sempre. Foi assim que aprendi que tudo o que acontece na vida tem um sentido e, por menor que seja, vai te preparar para algo maior”, comenta o publicitário, que ainda guarda o nariz do palhaço que marcou sua vida.

Assim como Montaldi, muitos outros jovens deixam um pouco de lado momentos de suas vidas, atividades rotineiras e compromissos para se dedicar aos outros sem pedir nada em troca. É preciso seriedade, preparação e, principalmente, comprometimento.

É isso que também mostra a estudante Rafaella Rebelo, de 16 anos. Ela dá os seus primeiros passos pelo mundo do voluntariado e já cumpre um papel importante. Uma vez por semana, a menina que veio de uma família com boas condições financeiras, que tinha tudo para curtir um shopping com as amigas ou ficar colada no smartphone e na TV sai de casa e vai de ônibus até uma igreja evangélica no bairro Novo Cambuí dar aulas de inglês para crianças e senhoras carentes.

“Sou adolescente e não acho que domine tanto assim o inglês, mas eles me vêem como uma professora mesmo e isso me incentiva a continuar. Esses dias uma menininha colocou no quadro a frase: “I have a cool teacher!’ (eu tenho uma professora legal). Isso foi um presente para mim”, comemora a estudante, que tem mudado a sua visão de mundo.

“O que mais tem é jovem que critica as injustiças da sociedade, que fica em seu quarto ouvindo músicas que criticam o que está por aí, mas não se mexem na prática. Nós temos muita sorte, estamos em uma situação privilegiada. No Brasil, não é tão simples as pessoas terem oportunidades como as que eu tenho. Não há como não perceber a pobreza nas ruas”, diz a estudante.

“A gente cresce tendo tudo o que pede para os pais e outras pessoas não vivem isso. As crianças para as quais eu dou aula não têm essas oportunidades. Isso acaba sendo uma lição para mim também”, acrescenta a menina que sonha em ser médica.

Caçula

A pouca idade não impediu que o estudante Caíque Carvalho Caruso, de 14 anos, já começasse a sua vida de voluntário. Legalmente, a atividade só pode começar aos 16 anos, mas o menino viu nas iniciativas de sua escola, no Taquaral, a oportunidade de colocar a mão na massa imediatamente. Ele tem participado, por exemplo, de ações no local como campanhas de doação de brinquedos e produtos de higiene para entidades.

Caruso também se inscreveu no grupo escolar que deseja se preparar para ser voluntário num futuro próximo.

“Sempre tive essa vontade de ajudar o próximo. Quero dedicar o meu tempo e vontade a uma causa. Ajudar é necessário, ainda mais no mundo em que a gente está vivendo. Quanto mais você tentar contribuir, melhor será no futuro”, acredita.

O exemplo veio de casa. O irmão mais velho, Giovane Caruso, de 21, que cursa jornalismo na PUC-Campinas e ciências sociais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tem despertado a consciência humanitária do caçula.

“Ele me passa as suas experiências e isso me faz querer agir”, diz o pequeno grande cidadão. 

Fonte: Portal RAC

Nenhum comentário:

Postar um comentário