domingo, novembro 04, 2012

Viver para o outro


Lea Della Casa Mingione é um exemplo de motivação. Já atuou como voluntária ajudando crianças com deficiência, é superintendente do voluntariado do GRAACC (hospital de câncer infantil que Lea ajudou a fundar, e que é beneficiado pela Sorria) e preside a Casa Ronald McDonald, instituição que oferece hospedagem às famílias de pacientes do GRAACC que saem de suas cidades para enfrentar o tratamento em São Paulo.

Parece coisa demais para uma senhora de 80 anos? Bom, para ela, essa é apenas mais uma forma de descobrir as lições que a vida tem para ensinar. Orgulhosa dos 37 anos de experiência como voluntária, Dona Lea conta abaixo quais são os maiores desafios, dificuldades e alegrias de quem resolve estender a mão para ajudar o outro.



Por que as instituições precisam de voluntários?
Ter voluntários trabalhando faz uma diferença enorme no ambiente. Eles chegam com uma grande vontade de trabalhar, com garra e muito amor para dar. Não é um trabalho fácil porque por vezes é preciso lidar com famílias desestruturadas, pessoas desmotivadas... mas quem é voluntário sempre está pronto para ajudar e dar o seu melhor, mesmo quando a situação é mais complicada.

Quais características a pessoa precisa ter para ser um bom voluntário?
O voluntário precisa ser disciplinado, responsável e organizado, já que, por vezes, ele também precisa cumprir um horário determinado. É preciso ter boa vontade para desempenhar um trabalho correto, e isso também inclui assiduidade. Quem é mais novo e faz faculdade, por exemplo, precisa saber organizar seus horários de estudo para não furar seus compromissos.

Qual o maior desafio de quem se torna voluntário?
Há vários desafios. Os principais são: encontrar a área em que você pode trabalhar melhor; dar atenção e assistência para todos que dependem de você naquele momento; e o mais difícil: envolver-se e, ao mesmo tempo, saber separar a sua vida de voluntário da sua vida pessoal. Na hora de fazer algo pelos outros, os nossos problemas devem ficar da porta para fora.

Existe alguma coisa ruim em ser voluntário?
Às vezes é difícil deparar com os problemas dos outros e não poder fazer muita coisa. No meu caso, lidar com o câncer infantil sempre envolve a perda. Nunca vou me acostumar com isso. Quando a gente se torna voluntário, se apega muito às pessoas com quem convive. E lidar com as dificuldades dessas pessoas sempre é difícil.



Qual o retorno que um voluntário tem?
A forma de a pessoa pensar muda. Ela passa a entender que a vida é cheia de problemas e dificuldades, mas que nos ensina muito a partir das experiências que vivemos. Eu mesma, antes de ser voluntária, levava uma vida tranquila e despreocupada. Até superficial, eu diria. Quando perdi minha mãe e três dos meus irmãos para o câncer, aprendi uma lição para o resto da vida: enxergar as necessidades do outro e tirar aprendizados disso todos os dias. As pessoas que ajudo me ensinam que a vida é difícil, mas que sempre é possível seguir em frente.

Pesquisas dizem que o voluntariado faz bem à saúde. Você sente isso na prática?
Além de sentir uma disposição incrível, eu trabalho porque me sinto útil. Tenho pique para sempre querer ajudar mais. Nunca quero parar. Toda vez que vou ao médico, o que mais ouço é: "Que saúde irritante!", porque está tudo nos conformes. Trabalho o dia inteiro, tenho 80 anos e ainda acho que tenho muito o que viver.

Qual foi a experiência mais recompensadora que você já viveu como voluntária?
Quando comecei, há 37 anos, era chamada de tia. Hoje, sou a "vó" das crianças. Depois de tantos anos, fico emocionada quando algum ex-paciente traz os filhos para eu conhecer. Também tem uma ex-paciente que sempre é a primeira pessoa a me ligar no Natal, no meu aniversário e no Dia das Mães. É nessas horas que percebemos que passamos pela vida deixando um rastro, tornando-nos amigos e confidentes das pessoas que conviveram conosco.

Que recado você mandaria para quem pensa em ser voluntário?
Tem vontade de ser voluntário? Então vá experimentar. Procure a área do seu interesse, procure conhecê-la melhor. Se não der certo, não desista. Sempre há algum lugar precisando de ajuda, e qualquer tipo de trabalho feito com boa vontade é bem-vindo. São muitas áreas. Todo mundo pode se encaixar em alguma delas. O importante mesmo é ajudar.

Fonte: Revista Sorria



JF

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