quinta-feira, agosto 04, 2011

O dia em que descobri o circo.


"Ora, há muito o circo não é mais o maior espetáculo da Terra. Mas minha experiência foi divertida e, quando dei por mim, tinha um sincero sorriso no rosto"
Não me lembro de quase nada daquele dia. O que restou de lembrança - motivo de risadas lá em casa até hoje - foi um daqueles monóculos de plástico, com uma fotinho lá dentro. Na imagem estamos eu, aos 12 anos, e meu pai, um mais entediado que o outro, na arquibancada rarefeita do primeiro circo da minha vida. O show era tão vagabundo que nem uma piada, nem um rugir de leão, nem uma manobra de trapezista sobraram na minha memória. Nos 20 anos seguintes, o universo circense, para mim, foi composto de imagens-clichês vistas na TV e em revistas. Até que alguém sugeriu que esse fosse o tema de um dos textos da Sorria. Tocou para mim escrevê-lo, com uma óbvia condição: deveria assistir a um novo show que me trouxesse inspiração. Ora, há muito o circo não é mais o maior espetáculo da Terra. Todos sabem que aqueles leões não tinham garras e passavam fome, conheço mais gente que sente medo do que vontade de rir ao ver um palhaço, e o que se inventou em matéria de entretenimento nas últimas décadas torna completamente anacrônica a ideia de esperar a alegria chegar à cidade a bordo de um caminhão. Deixei para o último dia da temporada. Um domingo chuvoso e frio, após uma noite mal dormida. Tive de esperar sentado no concreto úmido por uma hora até a lona ser aberta. Foi minha namorada quem me convenceu a não dar meia-volta para debaixo das cobertas. Então, finalmente, a apresentação começou. Um casal de palhaços nos deu as boas-vindas e, acreditem, eles eram engraçados! A trapezista, o malabarista e o acrobata não fizeram nada que todos ali já não tivessem visto na TV, mas aquilo tudo tinha um ar tão simples, nostálgico e aconchegante que era impossível não achar bonito. Enfrentei meu maior medo quando me pescaram para uma daquelas assustadoras participações da plateia. E foi divertido! Quando dei por mim, tinha um sincero sorriso no rosto. Infelizmente, ele não foi registrado numa foto de monóculo. Mas, tudo bem: vão ficar bem guardadas na memória as lembranças desse dia, em que eu finalmente descobri o circo.
Texto: Dilson Branco // Imagem: Divulgação/Circo Zanni

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